Oliveira dos Campinhos - Santo Amaro

Friday, December 29, 2006

O GRITO DO SILÊNCIO IV

Ano I- Dezembro - 2006


RECORDAR É VIVER

Oliveira começa a receber seus filhos e visitantes em busca de diversão e descanso nesse período de recesso e férias.
Recordo-me da infância, quando minha mãe se preparava para passar uns dias na casa dos meus avós.
Hoje eu avalio o quanto era cansativo, quase uma verdadeira maratona fazer o trajeto de Salvador para esta bela Vila, com três crianças nas mãos além das bagagens. Nem sempre tínhamos o privilegio da companhia do meu pai, pois raramente as suas férias coincidiam com as nossas.
Nesta época o terminal de ônibus com destino a Oliveira era na Praça Marechal Deodoro, uma das praças com árvores mais frondosas e bem arborizada na capital; situando-se próxima ao Mercado do Ouro e o Ministério da Fazenda.
A marionete, ou condução como era chamada partia às 17:00 horas fazendo trajeto pela Calçada, Largo do Tanque, São Caetano, Jaqueira do Carneiro rumo a Santo Amaro. Era um pára-pára imensurável. Em poucos minutos de viagem os passageiros davam sinais de dor de barriga, vertigens, vômitos devido às sacudidelas e balancês na viagem.
Antes mesmo da partida o condutor (motorista) metia uma manivela num orifício na parte frontal do veículo, com movimentos rápidos e circulares até o motor chegar ao pleno funcionamento, esperando o aquecimento antes da partida .
Eu e minhas irmãs não tínhamos nenhuma noção na época sobre espaço/tempo para saber quantas horas levaria ou restaria para chegarmos até a casa dos nossos avós e revermos nossos tios, primos e amigos. Mas, à medida que viajávamos íamos incorporando em nossos arquivos mentais alguns pontos que nos serviam como norteadores do trajeto percorrido.
Ao adentrarmos em Santo Amaro, com a luminosidade penetrando as janelas do veículo, já tínhamos bastante noção que estávamos nos aproximando do nosso adorável vilarejo.
Daí em diante em plena escuridão o ônibus seguia com destino a Oliveira, deixando o rastro
dos seus pneus marcados na estrada e linhas sinuosas de poeira vermelha desenhadas no ar até o platô da Mata do Pé Leve (Nova Conquista). Neste trajeto as pessoas esperavam os seus entes queridos que chegavam de viagem alguns com candeeiros em meio a escuridão expressando alegrias no abraço de saudade e de prazer no reencontro.
E lá íamos nós para Oliveira. A ponte do arco, a subida da pequena ladeira, a luminosidade tênue e difusa nos indicava que já estávamos chegando para as peripécias e traquinagens, muitas vezes corrigidas com sanções e beliscões. Quem não passou por isso?
O coração saltitante, a vontade de correr até a porta do ônibus. Tudo era quase incontrolável. Nós sabíamos o que podia acontecer se desobedecêssemos às orientações passadas antes da viagem. Controlávamos toda a ansiedade. Queríamos explodir de alegria. Mas não podíamos naquele momento. O cheiro de terra, das folhas, flores, do caju, da jaca e da atmosfera local era maravilhoso, nos fascinava.
A marionete acabara de cruzar o armazém do Sr. João Batista Nery Mattos, e lá a nossa esquerda estava a Majestosa Matriz, implantada em um ponto privilegiado da grande praça, em gramado verdejante e rasteiro, que hoje ainda conserva o formato Jesuítico de delimitação urbana.
Abrindo aqui um parêntese, lembro-me que o meu avô Eliodório Vitório de Souza tinha o costume de sentar no fim da tarde em frente à Santa Casa da Misericórdia e Hospital de Nossa Senhora da Vitória, para tirar uns tragos do seu charuto, antes da cestinha (após o almoço). E daquele local tínhamos o privilégio de ver descortinada as residências em estilo colonial, com janelas e portas emolduradas em vergas retas e arqueadas (hoje poucos conservam a sua fachada original), com as cores predominantes em vermelho, azul e verde.
E a condução seguia em direção à Pensão da tia Bela. Quem não conhecia a pensão da Tia Bela?!. Ela era bondade em pessoa, humana e justa. Quantos pobres viajantes não tiveram um agasalho ou sua fome amenizada gratuitamente por aquela bondosa mulher.
E meus primos gritavam ao ver o veículo aproximar-se da casa da tia Bela. – Lá vem a tia Maria! Outro gritava: - Cadê ela?! – outro respondia: - Ali, olhe!
E íamos descendo frenéticos ao encontro dos nossos primos, em pleno mês de dezembro para deleitar a atmosfera oliveirense e ter o prazer de visitar e conhecer os presépios armados por dona Raimunda e Mila Oliveira, dona Diná Atayde, dona Paulina Nery Mattos e de dona Flora. E os elementos figurativos em barro cozido ao sol e policromados, confeccionados por dona Maria Franca. Todos os presépios e as figurinhas artesanais eram elaborados com qualidade e criatividade.
O presépio, embora simbolicamente represente a teatralidade do nascimento de Jesus, nos remete a fazer uma reflexão sobre a simplicidade do seu nascimento, onde a Mãe Santíssima dá a luz numa manjedoura, num ambiente destituído de luxo, porém repleto de luz e amor, a aquele que mudaria toda a História da Humanidade, tendo sua trajetória de vida pautada no amor ao próximo, na caridade, orientando o seu rebanho ao caminho da luz.

A vocês meus caros leitores, votos de um ano novo repleto de paz, saúde e sucessos.

Que o Bom Jesus e Maria Santíssima proteja-os e os cubram de luz

Cosme Santiago da Silva Filho
Oliveira de Campinhos, 29/12/2006

FELIZ 2007

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