Oliveira dos Campinhos - Santo Amaro

Friday, March 09, 2007

O GRITO DO SILÊNCIO VI


INFORMATIVO

Ano II- nº. 06 - Março - 2007


EDITORIAL

O CARNAVAL JÁ PASSOU, AGORA É SÓ SAUDADE!

Vai ter carnaval? Quais são as atrações? Eram perguntas corrente, corriqueiramente cercadas de expectativas por parte dos foliões nos dias que antecediam a festa carnavalesca oliveirense.
Na sexta-feira antes do circuito “Oficial” os foliões se animaram atrás do Bloco da Hora, de Dão e Noélia e da “Carroça Andante”. Já pensaram se essa carroça fosse puxada pelo burro de propriedade de Misso, que sempre queria disparar rumo a capineira na Canoa, quando se via aproximar do Armazém de César de Zito, com Misso a gritar: “para sua injuria, para injuria”, querendo até morder o pobrezinho, que de burro só tinha o nome, e a turma a segurar o cabresto do animal na maior galhofada tentando conter a inquietude do bicho diante da sonoridade e do folguedo dos foliões, a mover a carroça em rotação tresloucada. Diante da situação e do vexame do animal, Jairinho não sabia se gargalhava de forma incontida ou se protegia o equipamento de som de uma possível avaria. E era assim o carnaval.
Por mais um ano, mesmo cercado de segredos pelos organizadores, os foliões não tiveram suas expectativas correspondidas. E o pior, se não me falha a memória, por dois anos consecutivos abortaram o sábado de carnaval, há anos incorporado ao calendário momesco.
Houve a festa, mas poderia ser bem melhor.
Ainda bem que os foliões, de domingo a terça souberam fitar o desconforto dos atrasos, optando pelo som dos carros e das barracas, até o começo das tocatas no palco fixo, sem muita animação. Desse jeito não podemos deixar de ser saudosistas.
Sem dúvida nenhuma os carnavais de outrora com o caminhão decorado com pano de chita das mais variadas cores ou em armação de madeira, por que não dizer plagiando o cantor e compositor Carlinhos Brown, “Trio de Madeira Andante”, não deveria nada a recente festa, diante a apatia e animação dos foliões. Tiraria de letra a desmotivação do público com os acordes de Manoel e Zé de João José, Florinho, Expedito Oliveira e Americano.
E a surpresa! ? Primeira banda: Pagode; segunda: pagode; e a ........: pagode. E só dava pagode. Que insensatez. E desses o melhor grupo foi o “PHORT PEGADA”, do Barro Vermelho, os demais, tiveram uma apresentação mediana. Uma verdadeira babozeira, para a infelicidade de nossa audição.
Poucas bandas de axé se apresentaram. O único destaque foi a “ banda MIX ......”
A terça-feira foi o melhor dia da festa graças ao arrastão do carro de som de Junior de Dinho e Nicinha, com músicas épicas do carnaval puxando alegremente a rapaziada do babá de saia tradicional. E olhem que já teve até ex-prefeito que participou desta festa.
Gradativamente percebemos a desconstrução das coisas incorporadas a nossa cultura. Vejam vocês que o tradicional mascarado vestido de vaqueiro não aparece mais. Quando ouço a música de NINHA, ex-timbalada: Derruba, derruba, derruba o vaqueiro é quem derruba, me ocorre a lembrança do Vaqueiro mascarado a correr ladeira abaixo e acima, entre os becos e quintais com o laço armado atrás da garotada amedrontada. Eram temidos e implacáveis. Quando não apareciam em um dos três dias do carnaval faziam faltas. Se transfiguravam nesta folclórica figura de vaqueiro o Daniel de Senhor Delegado, o José Freitas (Zequinha de Caetaninho), o Zeca Caetano (Zequinha de Dalva).
Hoje não temos mais a aparição do vaqueiro mascarado, no entanto, vemos, maldosamente laçadas e derrubadas de forma lenta e gradual as nossas festas.
Animaram também a festa o Bloco da Quinta da Regaleira, que veio representando o mais sofisticado Point de Eventos do município de Santo Amaro, puxado pelo carro de som de Alex, e o Bloco da sempre alegre tia Felícia, acompanhado da charanga composta por Samuel, Edson, João Paulo, Minho e Everton, músicos oliveirenses, que por sinal vêm abrilhantando muito os festejos populares à terça-feira gorda.
Mas uma vez ao se planejar a festa só houve a preocupação na delimitação dos espaços de ocupação dos barraqueiros, dos vendedores com caixas isopor e dos comerciantes das mais variadas iguarias, esquecendo-se de um ponto primordial que seria colocação de instalações de sanitários químicos em torno da área de concentração da festa, tendo em vista atender a demanda de foliões na cidade. Mesmo com essas instalações há indivíduos que às vezes pelo efeito do álcool, quando não por desrespeito, fazem suas necessidades fisiológicas, indiscriminadamente, em qualquer lugar público sem o mínimo pudor. Os cidadãos civilizados só têm tais atitudes quando não lhes são oferecidas as mínimas condições sanitárias.
Afinal de contas a nossa população e o público em geral que fazem opção pelos festejos nesta terra querem ser tratados com dignidade e respeito. As paredes das residências da Praça da Matriz, da nossa Secular Igreja Matriz e as ruas do entorno do palco, não são sanitários público. Por que a diferença de tratamento entre a sede e os distritos? Por acaso aqui é mictório publico?
Se liguem! Isso também é uma questão de Saúde Pública e Meio Ambiente. Estamos de olho!

Cosme Santiago da Silva Filho

Oliveira dos Campinhos, 02 de março de 2007.

A Primeira e Ultima vez, ou

A História de João Luiz.

O ano era de 1999 e a cidade o Rio de Janeiro; João Luiz tinha 15 anos e era meu aluno na Escola Quinze de Novembro pertencente à Fundação Nacional do Bem estar do menor – FUNABEM. Ao contrário do que se pensava, a escola não era um centro de recuperação de menores infratores e sim, uma instituição de ensino para menores que viviam em situação de extrema pobreza daí o sistema de internato, e o projeto pedagógico incluía além do ensino formal cursos profissionalizantes uma maneira de garantir algum conhecimento para quando os alunos completassem 18 anos e se desligassem da escola, estarem aptos a um emprego. João Luiz era excelente aluno, o único na minha turma que não tinha experimentado drogas, apesar de ser vítima de inúmeras “tentações”; sempre que tratava do assunto, eu provocava no meu grupo uma série de atividades para demonstrar o quão desnecessário é o uso das drogas para os jovens, os velhos, enfim para os seres humanos.
Um dia, senti falta de João Luiz na sala de aula e, ao perguntar por ele soube que estava na enfermaria, procurei saber o motivo: Havia cheirado muita cocaína e teve uma queda abrupta de pressão! COMO? Eu perguntava atônita, surpresa; pois é foi a primeira vez me contavam os colegas; saímos no fim de semana, e ele teve que provar; por que? Perguntava eu: “Para deixar de ser diferente tia!” explicava o companheiro. Corri para a enfermaria para conversar com ele, tarde demais ......o médico havia acabado de comunicar seu falecimento: sofria de um mal cardíaco que só foi detectado com a queda de pressão e não resistiu.
Arrazada levei o caso para a sala de aula e perguntei aos alunos: Aonde falhei? A resposta: a senhora não falhou em nada, “o mundo é que funciona assim: tem que ser forte para saber dizer não”.
Até hoje me lembro dele, concordava muito comigo quando eu mostrava as conseqüências para a saúde provocadas pelas drogas, porém, não foi forte o suficiente para quando vivenciasse uma situação de fato, dizer Não.

Obs; o nome João Luiz é fictício, mas o caso é real.

Colaboração de Yara de Senna Amado para “O Grito do Silêncio.” (Socióloga, Mestre em Educação pela UERJ)